quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Porto sentido

     tenho necessidade de passar tempo por minha conta. significa vontade de varrer a pé as ruas de uma cidade, sentir o vibrar agitado do seu coração, entrar numa igreja desconhecida, visitar a coleção inesperada do museu habitual, perder-me nos seus parques e jardins, conquistar paladares, olhar as montras exclusivas do lugar, descobrir corajosos muralistas anónimos, comunicar com quem me cruzo nesses percursos. sozinha.
     cultivo dessa forma um silêncio que me é imprescindível. ressaco se percebo que o momento passou e agendo de forma urgente uma data próxima para o fazer. sempre durante a semana, quando o frenesim da engrenagem dos cinco dias da semana de trabalho é notório. regresso revigorada, sem sacos pendurados mas atulhada das provas dos sítios por onde me detive. papéis, notas, rabiscos, desenhos, gráficos.
     nunca deixei de ir onde quer que fosse por me faltar quem fosse comigo. descobri o prazer de viajar sozinha, de mochila às costas e com muito mas muito pouco dinheiro há onze anos, pela Toscana, em Itália, país onde vivi dois meses e meio, tempo mais que suficiente para perceber que só não damos a volta ao mundo porque não queremos. a culpa é mesmo do verbo. é ele o grande entrave. 

4 comentários:

Maria Emília Melo disse...

Olá! Olá! Olá!
Descobri-te! A tua maneira peculiar de tecer as frases...a tua filosofia de vida...os sussurros das entrelinhas...a energia das ações do dia a dia...a Ana...a Ana que esteve em Ancona, que deu um salto à Croácia,que me deu a provar o 1º panetone.
Ah, grande mulher...és mesmo uma mulher do nórteee!
Um grande abraço

Anônimo disse...

Pois! pois! obviamente tu. adivinhei-te. bem sabia eu! só tu homenageias as emoções e os pensamentos com palavras incomplexas, atinadas ou desatinadas, encantadas ou desencantadas, pensamentos daqui, emoções d’acolá. Alinhavas palavras soltas que acertam na perfeição com o que muitas vezes sentimos, mas não revelamos. Ainda bem que te avisto a vir… gosto da forma como poetisas a existência. A tua atenção às pessoas, aos ornamentos, aos retratos, aos detalhes, aos momentos, … és primorosa. Gosto muito de ti… e de saber que compreendes os “gestos com que as pequenas flores se abrem pela manhã”.

a paixão de anna disse...

querida tia,
eu sabia que estas linhas seriam lidas por quem escreve sempre tão bem.
e tive desde o início a certeza que seria uma descoberta pela identificação das vivências. tomei isso como certo. mal adivinhei, porém, a rapidez do encontro.
sou uma mulher do norte com tanto do sul!
um beijo, querida tia.

a paixão de anna disse...

caro-anónimo-que-te-conheço-tão-bem,
esse sotaque perfumado da ilha sente-se nas linhas que aqui deixas (aposto que franzes agora o sobrolho).
o sentimento é mútuo. sabes bem que sim.
espero que voltes mil vezes, as mesmas que falamos ao telefone, fingindo que há sempre tanto de novo para partilhar.
até já, dfvn.