domingo, 30 de dezembro de 2012

uma morada de afetos
     ainda sinto o natal. é deste natal que gosto. que começa quinze dias antes do nascimento do menino e se prolonga, desvancendo-se no dia seis do ano seguinte, encerrando as festas. o meu natal são as recordações dos natais da minha infância e essas, transportam-me para a azáfama de um centro, Santa Catarina, no Porto. 
uma referência. 

o Majestic.

as livrarias e os alfarrabistas.

a batalha.

    

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

     só me apetece acender cigarros, descontraída, relaxada e satisfeita da vida, quando ao cérebro lhe apetece voar. não há, por isso, vício que se suporte.

domingo, 16 de dezembro de 2012

dádivas

   mar. verde. dunas. vento. árvores. lareira. chuva. fogo. hortas. castanhos. vinho tinto. ecologia. música baixinho. água. óleos. mãos. nevoeiro. pedalar. olhar e ver. sentir. permacultura. natureza. estufa. chá. reutilizar. conhecer. noite. céu. gostar. amar. e certos de voltar ao mar.
    pudesse aqui descrever estes dois dias se, fechando os olhos por momentos, regressasse ao que neles vivi.















quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

     contei aos meus filhos que com sete anos já ía ao cinema sozinha, no cine-teatro, ao domingo, em Tomar.
     quando na escola primária tinha o azar de não ser a contemplada no sorteio semanal, com o bilhete da sessão de cinema de domingo às onze da manhã, os meus pais davam-me os 80$00 para o comprar na bilheteira e com instruções precisas para não comer batatas fritas no intervalo porque depois não almoçava (e eu lá aceitava, nem sei como).

     a independência era enorme. saía de casa de manhã, descia a alameda, atravessava a ponte velha, percorria a corredoura pelo passeio (na altura ainda havia trânsito), chegada à praça da república virava à esquerda e depois era sempre a direito até encontrar um mar de miúdos cheios de sorte, como eu. ou porque lhes tinha calhado o bilhete (o senhor Jaime de Oliveira fazia chegar bilhetes a todas as escolas primárias e que eram três só na cidade) ou porque também eles o compravam. era um privilégio. agora, sei bem. quase sempre levava a minha irmã pendurada com quem, na altura, as relações não eram lá muito amistosas. hoje somos as maiores amigas.

     aquele caminho era uma aventura de kilómetros e kilómetros (não chega a um) e assim o fazia para lá, também o fazia para cá. por vezes os pais surpreendiam e esperavam-nos no fim da sessão. outras vezes íamos ter com eles ao café paraíso, onde cheguei mais que uma vez a encontrar a Beatriz Costa com uma franja que eu admirava mais do que a própria atriz que, dada a minha idade, nada me dizia. lá íamos todos. entretanto os meus irmãos mais novos começaram a fazer parte da rotina culural e com eles aquilo era um pandemónio. viam cinco minutos do filme. o resto era passado por entre corredores a fugir às senhoras que tomavam conta dos camarotes e da plateia.

     depois de lhes contar como  foi ser criança habitué do cinema em Tomar, o mais velho, dez anos feitos em setembro, muito atento a todo o desembrulhar das peripécias cinematográficas que lhes ía desvendando, perguntou-me se também ele podia ir  com os amigos na próxima sessão sem a presença daquela que lhe indica sempre o lugar e lhe leva as pipocas enquanto ele percorre o caminho em rodas sucessivas, pinotes e cambalhotas, como se fosse afinal ao circo.

     ainda não lhe respondi.

domingo, 9 de dezembro de 2012

    um sábado intenso de muito sol e calor. uma dupla de ouro para dezembro, mês de hábitos recolhidos à lareira que saiu ontem furado. e ainda bem. entregámo-nos num almoço às pizzas na melhor esplanada da cidade e saímos a pontapear as folhas castanhas que despiram as árvores do parque. agarrámo-las em montes que atirámos ao ar. eles chamaram-lhe "chuva de folhas" e eu lembrei-me das "folhas caídas", a obra que rematou a vida do escritor.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

singularidades


     o miúdo de dez anos viu o filme comigo, numa tarde de sábado. aninhou-se aos meus pés e mãos na nuca foi um espectador atento, nada ansioso e bastante interessado. no fim, ainda lhe perguntei se tinha gostado, dada a singularidade do seu (exemplar) comportamento. muito!
     eu gosto de todos os filmes d'O realizador. não me atrapalham os movimentos lentos de câmara, os diálogos carregados de silêncios em que se ouve o trabalho das máquinas de rodagem. tudo nele é tempo bem preenchido.
     gostei daquela resposta singela, quase duas horas depois de decidir partilhar comigo a sessão. logo de seguida agarrou nos bonecos do wrestling, amassou-os uns contra os outros e realizou ele um enredo de teatro, no ringue plastificado dos musculados, brutos e falsos ofendidos.

domingo, 2 de dezembro de 2012

um engano feliz













    este ano o engano arrancou a cor do natal desta casa. a ferros, a decoração veio depois. foi difícil a princípio pela surpresa do desembrulho. o espanto tomou conta da serenidade e inquietou a planificação de semanas.
   sabia que este natal retornaria, após três épocas de hibernação forçada, ao verde do pinheiro, farfalhudo, de bonito porte nos seus quase três metros de elevação. estava guardado, bem escondido, por entre outros de diversas cores que descansam num canto da garagem. 
   uns dias antes do primeiro de dezembro de ontem, o meu irmão pediu-me emprestado um dos que lá jazem, sem quaisquer exigências de beleza. que sim, que tinha vários, que havia somente um reservado, enorme e imponente, preparado para a época, ansioso pela reentrada em cena. que viesse, então, buscar todos menos esse.
   foi um engano de destra  armada em esquerdina a entregar, em mãos, o pinheiro marinado e, naturalmente errado. lá se foi, assim, a tela nua da minha imaginação! 
   com tamanha surpresa e alguma decepção revolvi o canto da garagem em poucos minutos e apanhei o pinheiro branco, aquele dos pólos que fez os últimos dois natais cá de casa. escolhi-lhe os enfeites, por entre novos, velhos, pequenos e graúdos e fitas compradas à pressa, fazendo a mais bonita árvore de natal dos últimos anos que não conteve o suspiro dos miúdos quando a encontraram já montada, a faltar-lhe apenas a estrela cimeira, obra deles. 
    quando sexta - feira apresentei aqui o pinheiro do pólo norte num natal mediterrânico do ano de dois mil e onze sabia que sábado não seria assim. haveria um antes e um depois. um frio branco e um calor verde. um texto a acompanhar essa mudança. a passar o testemunho. 
     enganei-me. só que esse engano trocou-me as voltas e restaurou-me a felicidade.
     

sábado, 1 de dezembro de 2012

                                um pinheiro do pólo norte num natal mediterrânico.
                                                     do ano de dois mil e onze.