terça-feira, 30 de junho de 2015

voltei.

     
Marraquexe, dois mil e dez.
     a minha vida enche-se a cada movimento de inspiração. tanto que, não raras as vezes em épico ponto da confusão, oiço esse vulgar sinal de que estou cá, inspirando e expirando repetidas vezes, abandonando de seguida o pequeno mas forte momento de alguns segundos, esquecendo tranquilamente que o meu corpo trabalha sem comando à vista.
     há cinco anos, no meu até agora e ainda centro nevrálgico do planeta, na louca praça jemma el fna, em Marraquexe, onde o sagrado e o profano nos confundem o amadurecimento, senti esse movimento no peito, ao saber que acabara de encontrar o rapaz mais bonito que até então havia visto. pela forma como estava sentado, como posicionava os braços sobre um papel que tentei, em vão, ler, apaixonei-me. e fotografei-o de longe, sem o perturbar, de mansinho, mas suficientemente perto  para não lhe perder os contornos e a definição da imagem eternizada na minha memória. 
  desta vez, cinco anos depois, no mesmo lugar da minha praça, lembrei-me desse pequeno acontecimento e procurei-o, sem sucesso, partilhando a busca com quem me acompanhava. 
    ontem, o rapaz da louca praça de marraquexe atravessa-se no meu caminho, nas estradas recortadas e sinuosas de outras paragens, numa imagem arrancada por alguém que lhe encontrou a singularidade da beleza presente em toda a sua  figura.