quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

saír no frio do inverno.

     não desperdiço os meus dias de verão fora do meu país que me presenteia desde mil novecentos e setenta e seis com a melhor praia e o mais belo pôr-do-sol que morre, único, no fresco do Atlântico.

     por isso,

     jamais me enfio num avião para passar férias de apito num resort murado, a dez horas de distância.

     como tal,

     não compro férias de pacote por não apreciar produtos embalados e geneticamente modificados.

     assim,

     espreito para lá das fronteiras da minha língua nos meses duros do meu inverno, de preferência pelos passeios vazios dos lugares comuns onde todos insistem em ser fotografados. e fotografo fora do ângulo  de reconhecimento imediato.

   as minhas viagens têm que ser solitárias, ainda que esteja na maioria das vezes acompanhada. não gosto de multidões nem de fazer amizades com "colegas" de passeio. mas gosto de conhecer as pessoas dos lugares que visito, de me perder no seu ritmo único de palavras musicalmente diferentes das minhas. 

    dezembro que passou entrei em Itália por Milão, descendo de comboio até Florença. aí, subi e desci as colinas únicas da Toscana, cortei curvas e contracurvas no alto dos montes de onde avistei as pequenas aldeias perdidas nas vinhas de cores melancólicas e perfeitamente alinhadas ante as linhas de água que as alimentam. 

    e conheci, nesse cálculo único de kilómetros ganhos ao asfalto daquela região, Pisa que não é nunca mais e só uma cidade de uma torre inclinada. antes, a surpresa do mesmo Arno com que banhei os meus olhos todos os dias  mas a seu montante e a beleza sublime do espetáculo que é  a sua morte na marina que tem o nome da cidade.

   pude escutar o silêncio do encontro da água doce do Arno que se salga no Mediterrâneo. esse mar sem ondas, recolhido ao romantismo da costa itálica diametralmente oposta àquela onde vivi, por dois meses e meio, há treze anos.   

    isto é beleza pura, simples e fácil de apanhar. mas tem um segredo que mora fora dos meses agitados de verão.

marina de Pisa. dezembro de dois mil e catorze.

























terça-feira, 6 de janeiro de 2015

no trilho.


     se subires não tropeces que te custa mais o caminho. vai a direito, sempre em frente e não olhes para trás. assim que te cansares continua e se te faltar o ar, abranda. pelo trajeto, que te poderá parecer longo, vai contando as pedrinhas brancas que se evidenciam pela luz que emanam e atenta todos os sons dos diferentes bichos com que te cruzas sem os veres, porque se escondem à medida da tua caminhada. carrega toda a força que te caracteriza e explode somente quando achares que o tempo, esse tempo, chegou.