domingo, 28 de abril de 2013

otis não são só elevadores.


                                  
                                          e há encontros que parecem planeados.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

conjuga-me sem expiação


jemaa el fna marraquexe dois mil e nove.


eu espio
                            tu espias
                                              ele espia
                               nós espiamos
                                                        vós espiais
                                                                           eles espiam

segunda-feira, 22 de abril de 2013

o preto fica-lhe bem, menina.

marraquexe. dois mil e dez.
     a menina, ou a senhora, não sei, fica airosa assim, de preto. mas não é luto. é menina? há uns dias, quando a vi ali atrás, até disse ao meu filho que lhe podia ter morrido alguém. ai menina. mas não, pois não, menina? é a beleza, menina. as raparigas da idade da menina parece que ficam vaidosas com o escuro. parecem nobres, como a D. Rita da casa grande, com aqueles filhos todos. oito. loiros e de dentes muito grandes e brancos. tinham carro e tudo menina. eu tive bicicleta quando fiz vinte anos. foi uma revolução, menina. sabe lá. casei logo nesse tempo. e tivemos carro, já todos os filhos da D. Rita andavam fora. a menina que idade tem? não se importa, pois não menina? gosto muito de a ver assim, toda de preto. e não tem calor, menina? fiz um combinado com o meu homem. perguntei-lhe se eu fosse à frente dele, quanto tempo ele andava de preto por mim. ele disse-me um mês e eu disse olha, se ficar cá eu a ver-te ir, também ponho um mês. infelizmente ando eu, menina. éramos muito amigos. conversávamos muito sobre estas coisas da morte e outras. ai, menina, que falta que o meu homem me faz. e agora a fazer estas coisas todas sem ele. quer dizer, por causa dele. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

quid pro quo

santa helena, veneza, dois mil e sete. 
   não sabe que o fotografei, na velha Veneza, a pobre, descansada da azáfama turística, bela, bela, bela. não sabe que o fotografei porque a sua imagem chocou às minhas seis e um quarto, estática, muda, tão serena, longínqua.
  tento perceber como um pôr do sol adriático, uma esplanada vazia, um rapaz a ler e um copo de vinho tinto na mesa do rapaz a ler, fizeram desta imagem a fotografia da minha viagem.

sábado, 13 de abril de 2013

     Al Berto pouco tempo depois. mas agora os diários, os registos de parte da sua vida, desde oitenta e dois. os rascunhos, as notas, os papéis colados, a sua letra e os nomes dos amigos que identifico, muitos escondidos em letras maiúsculas seguidas de ponto. uma obra dispersa arrumada num só livro, folheado de trás para a frente,  como se a morte o sacasse  à vida e lhe restituísse a possibilidade de continuar o que era. pouco tempo depois, agora Al Berto.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

ao mesmo tempo.


ouvir

    passeio descalça pelos muros brancos da minha casa e vejo-a despojada, como os pés que pisam a madeira do seu chão. reajo à festa que lhe criei nas paredes e se é certo que me prendo cada vez mais a ela, é verdadeiro que a abandono vezes demais. não há um termo que me me deixe confortável. não há meio termo. a vadiagem segue-me como uma sombra e suga-me rumo a um infinito, ventosa de sofreguidão. como gosto de voltar, respirar o alívio dos que me sentem do outro lado da porta e me sentam, mãos nas minhas, ouvindo as histórias do mundo que percorri, galga e livre, comidas a metades. porque as mais das vezes nada interessam. apenas que voltei. novamente.

ler

ver