segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Henry e essa coisa de sonhar arquitetura.

     também eu cheguei ao Big Sur. mas setenta anos depois e já não montada nas laranjas de Jerónimo Bosch que, essas apesar de não ter cansado o olhar de tanto observar estática e petrificada as cores do tríptico guardado no Prado e por duas vezes em dez anos, guardo singelas e sumarentas mas para outros sonhos e núpcias, ainda que em vão.

     cheguei, ferida aberta no peito, alheia à causa que me trucidava o órgão maior e centrada na casa que sabia destinada ao meu futuro próximo. era aquela que mais uma vez criava a partir do REM e do RAM e dos devaneios da incompleta loucura. outra construção. outras linhas. nova casa.

     diferentes linhas, inseridas agora numa nova e inteira paisagem, fresca no tato ao passar-lhe os dedos pela superfície porosa da parede da entrada, tudo o que a compunha, mais madeira do que cimento, deixava em suspenso a impossibilidade prática da mudança. ou a fraca vontade de uma entrega. 

     não é já em mim estranho este resonhar uma certa arquitetura, desenhar num plano inconsciente  uma planta em diversas assoalhadas, onde se depositarão depois plenas vivências, num outro ponto que não me responsabilizará. 

     tudo nestas parcas horas de descanso é amplo e luminoso, livre e excessivamente leve. 
                                              Henry Miller

2 comentários:

Anônimo disse...

Cruzei-me consigo há uns dias, ando para lhe dizer. Tenho a certeza que era a Anna, por quem estou enamorado desde a primeira leitura. Nunca lhe vim aqui dizer que a sua escrita me deixa fascinado e intrigado ao mesmo tempo. Anonimamente A.

a paixão de anna disse...

caro anónimo A,
perdeu nesse cruzamento a oportunidade de se despir desse anonimato. podia bem ter-se revelado nesse instante. da próxima vez não deixe escapar o momento. volte sempre, se continuar a gostar.