segunda-feira, 1 de setembro de 2014

saber voltar.

   
      terão sido as melhores férias. soube disso muitos anos passados. quinze dias de uma história de amor que se viu adaptada ao livro publicado muito antes de ter nascido. terá sido então, a literatura a influenciar aquelas duas criaturas abraçadas a um amor recolhido em atitudes muito pouco prováveis  de adolescência. os bilhetes trocados, os presentes perenes oferecidos e a carta com um só destinatário mas posta a quatro mãos no marco do correio vermelho que ainda existe no centro da aldeia alentejana provam com evidência a singularidade daquele amor. com pouco aconchego físico mas intensa troca intelectual. soube disso tudo muitos anos passados. recolher as memórias, dobrar os bilhetinhos, entregar tudo a um envelope enterrado na caixa de laço de linho branco sujo. e há cheiros que ainda percorrem esse verão e umas ínfimas sonoridades que entre a violência de um mar batente nas rochas, um escape desafiante à modernidade da altura ou ainda o grito livre das gaivotas que aprendeu a amar resolvem o quadro, fechando-o num lugar que soube, muitos anos passados, estar confinado num só corpo e num só pensamento.








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