era por causa da música clássica que ela gostava de ali parar.
sentiu-o hoje, logo se sentou numa das alvuras cadeiras brancas. tudo ali é branco, como ele, neutro, como ele. houve uma suspeita que a tomou por muito tempo. que ali parasse outra. não a outra. mas outra. outra ligação, que não esta música, que o amarrasse àquela serenidade que sabia nunca lhe poder dar. era ali que ele sempre lia os jornais de fim-de-semana e o das letras que comprava a cada quinze dias, aproveitando para respirar o fresco do Tejo, pela manhã, a três metros de distância.
bastou que ela se fartou de não saber o que o esperava sempre que ele descia a avenida até Belém, direito à esplanada. e, num daqueles dias, agarrou nos sapatos menos confortáveis, depois de vestir o vestido quase transparente, deu um soltar de cabelo por trás da nuca que segurou, onde depositou o perfume que nem usava, parecendo-lhe aumentar a segurança, segurar-lhe a impulsividade. estava, porém desgovernada, quase capaz de bater a cada janela da vizinhança, anunciando a decisão, desnorteada dos seus movimentos, dos guinchos que lhe saíam da boca sem saber da sua insuficiente razão.
desligou o botão da aparelhagem e saiu, deixando a porta entreaberta, em passo demasiado acelerado em contraste com o porte altivo de que diariamente padecia.
rebolou avenida abaixo, estatelando-se à porta da esplanada, uma perna para cada lado e o carrapito era já um novelo de cabelos desalinhados à esquizofrenia dos seus pensamentos suspensos.
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