sábado, 11 de outubro de 2014

eternizar o instante.


 conheceram-se nas margens do rio de uma grande cidade. rodeados de turistas ávidos de provas fotográficas eternizadas em sorrisos forçados e observados pelas torres góticas da catedral elevada.  todos os dias se cruzavam no início da ponte, nos caminhos diferentes que percorriam. ela em direção a rive gauche. ele no seu contrário. vidas, decerto, bem diferentes mas despertas no mesmo ângulo de cruzamento de olhares, todos aos dias, às mesmas dez horas e meia. mesmo quando a rotina dos dias assim o não ditava, para não perderem a explosão apaixonada daquela troca de olhares diária, sem combinarem, àquela mesma hora das dez e trinta da manhã cruzavam-se. demoravam-se nesse cruzamento antes e depois por se perderem um no outro em pensamentos loucos e cada vez mais ousados. assim era com ela, assim foi com ele também. nunca ousaram, contudo, ir  além desse instante nem pensaram que o sentimento fosse tão recíproco quanto genuinamente apaixonado. 

     dez anos mais tarde, quando a idade a amadureceu e lhe deu a coragem que jamais imaginara conseguir ter, percebeu pela leitura durasiana todo esse enredo emocional fatigante que lhe deixou marcas profundas e que ainda hoje a não deixa, por vezes, dormir. 







  

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