terça-feira, 12 de novembro de 2013

    para ler

     que a tinha debaixo d'olho. essa agora! ela que nunca tinha reparado sequer nele quanto mais nisso de lhe andar debaixo de olho. ficou incomodadíssima. de verdade. conheço-a há tempo suficiente para lhe ler até os pensamentos que não verbaliza por falar pouco. quando se zanga é assim que descarrega. essa agora! um fedelho daqueles que tem idade para ser meu irmão mais novo.
   

   depois cantámos o fado a noite inteira. quase em câmara lenta. despropositadamente, nalguns momentos. e nunca mais falou nisso, no desespero que lhe causou  ouvir o discorrer daquela frase infantil. o sorriso crescia ao mesmo ritmo dos copos de vinho que despejava. até que, sem que ninguém o esperasse  e nem mesmo ela, tocou nos lábios do rapaz com um beijo seu. beijou-o, confundindo-o.

    no dia seguinte ninguém falou no assunto.


para ouvir
 
 

3 comentários:

Anônimo disse...

...ou o esquecimento e o silêncio são armas poderosas? E, não, o arrependimento não mata.

a paixão de anna disse...

são armas dolorosas e o que não mata, dizem que mói, caro anónimo.

Anônimo disse...

É verdade. Mas é também certo que dizem que o que não nos mata nos torna mais fortes. Há visões para todos os figurinos e copos que ora estão meio cheios ora meio vazios, cara Anna. Nada é unívoco.