num quarto andar - quer-me parecer - de um prédio de benfica ouvi pela primeira uns sons que revolucionariam a minha capacidade de entender a música. a mudança deu-se aí, no quarto das miúdas desse quarto andar, quando estas e outras duas miúdas, todas convencidas do seu lado cem por cento hippie, furavam orelhas umas às outras, bastando para isso uma agulha de costura e cubos de gelo que encenassem a anestesia. e um maço de tabaco de mentol engolido à mesma cadência com que engolíamos as músicas da cassete que se apresentava - pixies e o seu álbum bossa nova.
desde esse momento, bem gravado na minha memória, a aparelhagem do meu quarto no primeiro andar da alameda consumiu todos os álbuns dos pixies que pôde. sofregamente, a uma velocidade maluca de ouve, enrola e desenrola fita. e vai mais um disco, grava por cima do que puderes, sobrepõe o punk rock da tua vida às óperas da vida do teu pai. e deslumbra-te, ana luísa! a tua adolescência está a começar.
os pixies marcaram os anos em que as hormonas se apresentaram à vida em estado permanente de ebulição. dos que nasceram nos setentas e para cima de quatro e de quem descobriu naquela sonoridade melódica mas bruta, a passagem para o paraíso.
seguiu-se nirvana, mas isso é já uma outra história. uma outra paixão.
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