terça-feira, 14 de janeiro de 2014

     sei que não sou nada meiga. tudo o que para nas minhas ricas mãos nelas dura o máximo necessário ao processo arrebatador de enamoramento, na paixão do manuseamento da escolha, da descoberta, para lhe apurar os sentidos, sentindo, tateando, cheirando (garanto que esta péssima característica não é original e foi herdada) e não conseguindo, ainda que querendo, resistir ao círculo louco dos meus cinco sentidos, acaba partido, desalinhado, irremediavelmente sacrificado. afundado. e eu triste e sofrida como os apaixonados em sede ímpar do infortúnio.


    
     consegui poupar o corpo da minha canon. acabei de destruir a segunda lente. confirmei este desastre em Madrid, assim que cheguei, a saquei e não disparou. um trágico final, previsível por todos quantos, atónitos, me viam enfiar a máquina à força na minha mala, como se o convívio com chaves variadíssimas, carteira, porta - moedas, óculos de sol e de ver sem caixas (todos riscados, está de ver), papelinhos de amor escritos pelos meus filhos lhe desse garantia de eternidade.



    
      de nada serve me serve a minha máquina neste momento. a nº 1. a eleita. aquela de quem gosto de pronunciar o nome, notabilizando-lhe os énes, como aprendi há onze anos em Itália. "éne" e não "nê".

  
     saiba eu poupar agora a Leica, a outra. uma amante que pega fogo quando dispara e mostra nas alturas em que me lembro dela de que matéria é feita a sua lente, roubando-me espaço ao tempo que não levo dela, seduzindo sem me poupar os que me rodeiam, como desatou  a fazer comigo há uns anos, sempre que lhe passava a vista pelas montras da publicidade. por fim quando a vi, clássica e elegante  numa montra de loja de rua, subia o Chiado, o vidro a separar-nos, não descansei enquanto não juntei tudo o que me era permitido para a possuir.  


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