quinta-feira, 28 de abril de 2016

Al Berto

     dezanove anos frescos quando li Al Berto pela primeira vez. numa biblioteca, um livro escolhido ao acaso, retirado de uma prateleira a meia altura. um poema que não identifico. apenas o  Medo e a capa permanecem na minha memória. mais tarde comprei a 1ª edição dos Diários da Assírio e Alvim e a meio deste mês, o Medo.

     ler Al Berto é sentir a sua inquietação profunda e acompanhar-lhe a vida breve. conhecer-lhe os amigos e tentar adivinhar os amores que ocupavam a sua surpreendente alma, percorrer alguns lugares conhecidos, desfasados no tempo.


      "Quando em pequeno ouvi contar que Deus se escondia por todo o lado, nas águas do tanque de lavar roupa, no poço, na folhagem espessa do loureiro, na terra húmida, nos canteiros de flores, no cimo das árvores. Pareceu-me que o lugar mais provável era o cimo das árvores, não sei porquê, nunca consegui encontrar explicação. Deus está no cimo das árvores e não nos outros lugares que me tinham dito. Achei exagerado que Ele estivesse em todo o lado. Quando conseguia, subia às árvores, ficava acocorado na folhagem, em silêncio, e esperava que Deus se me revelasse.
Um dia surpreendi uma ave no ninho, e, repentinamente, suspeitei que deus se escondesse dentro dum ovo. A ave tinha voado para longe, assustada. Agarrei no ovo e trouxe-o para casa. Assim o conservei muito tempo, dentro duma caixinha de cartão, em cima dum pedaço de algodão.
Vigiei-o noite após noite, até que o esqueci. Deixou de me surgir em sonhos, o ovo, e deus.
Alguns anos depois encontrei, numa gaveta de uma secretária velha, a caixinha com o ovo dentro aparentemente intacto. Mal lhe toquei o ovo desfez-se, tinha um cheiro a podre, execrável, tal como deus, a pouco e pouco, foi apodrecendo no meu coração." 

in Diários. 

domingo, 17 de abril de 2016

poucas palavras.

a vida não dá para tudo.
enquanto houve vontade a vida dá para tudo. 
enquanto houver bom cinema a vida dá mesmo para tudo. 
aproveita o dia.

estou arrasada com este filme. 


com a sua banda sonora.







e a soberba interpretação de Juliette Binoche.

aqui a entrevista ao realizador do filme, Piero Messina.