quinta-feira, 31 de outubro de 2013

por mares nunca dantes navegados

eu não queria ser a mãe destes filhos.
 
mas quero os meus com esta coragem, esta bravura, esta determinação.
 
     não há palavras que descrevam o que se vê nas imagens e o que senti quando, empoleirada no farol da nazaré, em comunhão absoluta de silêncio com dezenas de curiosos desconhecidos, ouvi apenas este imponente pedaço de mar agitado que a cada onda desfeita nas rochas, solta o estrondo e, em ronco severo, impõe o maior dos respeitos, fazendo muitos baixar os olhos e rezar.
 
 
 
 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013



    aqui está um sítio mágico por parecer longínquo. belo em qualquer parte do mundo. aparentemente inacessível. surdo. clorofilino demais que deixe indiferente qualquer corpo que nele entre. é como entrar pela boca, noutro corpo e agitar com a entrada as folhas cimeiras com um exclamado "ohhh!". nunca é de outra forma. por ser sempre surpreendente.  
    é neste corredor que me sinto superiormente viva e onde me diluo na urbe animália que o compõe e de onde só me apetece sair a voar como uma borboleta, clamando a liberdade de ali permanecer eterna. 

bambuzal. mata nacional do choupal. coimbra.








quarta-feira, 23 de outubro de 2013

muitos outonos.

Tomar. dois mil e nove. 
jardim botanico. Coimbra. dois mil e dez.

jardim da sereia. Coimbra. dois mil onze.
mata do Bussaco, em dia de pic-nic. dois mil e dez.

quinta de s. jerónimo. Coimbra. dois mil e doze.


quinta de s. jerónimo. Coimbra. dois mil e doze.

quinta de s. jerónimo. Coimbra. dois mil e doze.

baixa de Coimbra. todos os outonos.

escadinhas do quebra costas. Coimbra. dois mil e onze.

mata do Bussaco. dois mil e dez.

margens do Sena. Paris. dois mil e onze.

mãe na rive gauche. Paris. dois mil e onze.

jardim das tulherias. Paris. dois mil e onze.


parque verde do mondego. Coimbra. dois mil e nove.

terça-feira, 22 de outubro de 2013


      quem disse que a melhor forma de juntar seis meninas que hão- de desbravar as alegrias do Rio de Janeiro em Dezembro não é em volta dos aromas do chá quente e de uma fatia de bolo de canela? 



a caipirinha e o quindim de coco que nos aguardem.




sábado, 19 de outubro de 2013

antes e depois.


     num quarto andar - quer-me parecer - de um prédio de benfica ouvi pela primeira uns  sons que revolucionariam a minha capacidade de entender a música. a mudança deu-se aí, no quarto das miúdas desse quarto andar, quando estas e outras duas miúdas, todas convencidas do seu lado cem por cento hippie, furavam orelhas umas às outras, bastando para isso uma agulha de costura e cubos de gelo que encenassem a anestesia. e um maço de tabaco de mentol engolido à mesma cadência com que engolíamos as músicas da cassete que se apresentava - pixies e o seu álbum bossa nova. 
    desde esse momento, bem gravado na minha memória, a aparelhagem do meu quarto no primeiro andar da alameda consumiu todos os álbuns dos pixies que pôde. sofregamente, a uma velocidade maluca de ouve, enrola e desenrola fita. e vai mais um disco, grava por cima do que puderes, sobrepõe o punk rock da tua vida às óperas da vida do teu pai. e deslumbra-te, ana luísa! a tua adolescência está a começar. 
      os pixies marcaram os anos em que as hormonas se apresentaram à vida em estado permanente de ebulição. dos que nasceram nos setentas e para cima de quatro e de quem descobriu naquela sonoridade  melódica mas bruta, a passagem para o paraíso. 


        seguiu-se nirvana, mas isso é já uma outra história. uma outra paixão.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013



A Mulher A Casa 


A casa é viva
(A mulher dorme)
Dorme na espuma
nas cores puras
Dorme na espuma do silêncio

Planos brancos
e cores lisas

Dorme no vidro
tranquilo

A casa é branca
É mais branca no silêncio
É mais branca entre árvores

A própria cidade é branca

A varanda é nua
A mulher é nua

Da casa branca
vê-se o mar
o fulvo dorso
da praia
nu

mulher de areia
deitada e panda
na frescura azul

Uma vela branca
de minúcia fresca

dá ao olhar a brisa
dá ao silêncio o mar

A mulher dorme
viva
na espuma
do silêncio

A cabra
cheirou a casa
cheirou o branco

O puro nó
do silêncio

Chego em silêncio
à mulher viva
dormindo

A casa é ela
em espiral
rodando
branca

É fino o ar
quase sem pó
Uma árvore dá
uma curta sombra

Uma brisa lava
a casa fresca

A varanda nua
é seca e branca
com sede de mar.



António Ramos Rosa,
in voz inicial (1961)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

ó bolhão! quem te viu e quem te vê.

 ainda assim valeu bem a pena visitar-te, apresentando-te aos pequenos que se espantaram com os pregões e os mimos com que as senhoras cuidavam a mãe. minha joínha! ó môr! ó riqueza! assim dito, com a força do sotaque do norte.
     






















     



















domingo, 13 de outubro de 2013

conservas portuguesas.

     no 130 da Rua do Arsenal, em Lisboa, nasceu uma loja de conservas. a Loja das Conservas.

    sou fã de conservas desde que, aberta uma lata há uns anos, descobri que a cavala pode ser um pitéu em tudo diferente daquela que se cozia em casa dos pais, servido nem-sei-bem-com-que-acompanhamento. à semelhança de tudo o que se apresentava à mesa, era obrigada a comer. nem que isso representasse uma tarde em frente ao prato a aguá-lo com lágrimas sentidas de manifesta repugnância. 

    da cavala segui o rasto dos diversos atuns, passei à truta, ao bacalhau, ao carapau e só não me meti ainda nas enguias. juntei-lhes saladas, marinados e as ervas aromáticas plantadas por mim. e hoje a minha despensa é uma paleta rica de sabores portugueses prontos a partilhar.


   há uma receita proposta aqui








    


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

danos colaterais.

       não me lembro de ter ouvido esta canção no concerto do Jorge Palma o ano passado, no TAGV. 
       somente agora, que a oiço em modo repeat, encontrei a explicação.
       pois bem,
      achei apropriado levar os dois miúdos cá de casa, sete e nove frescos e pujantes anos. entre a nona e a décima canção engalfinham-se um no outro, desatando à cacetada. nunca visto. fiquei envergonhadíssima e capaz de entrar na briga contra os dois. "quando é que isto acaba" "quando é que isto acaba", foi o que deles mais ouvi.
     como se não bastasse ter uma bancada inteira do camarote a assistir a uma briga de infantes irmãos, na cadeira ao meu lado, um jovem senhor cinco a seis vezes o meu tamanho em toda a escala, desbravava uma batalha consigo mesmo, em tentativas inúteis de segurar os efeitos danosos dos gases que lhe íam saindo sabe deus por onde. desde que se sentou e assim que se levantou. mais uma vez envergonhadíssima, solidária com o pensamento (é certinho) de todos aqueles que o ladeavam: "espero bem que não achem que fui eu".

    não estavam reunidas as condições para eu poder dizer, sequer, que fui ao concerto do Jorge Palma pois foi como se não tivesse estado lá.



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

inventar a vida.

lisboa está mais bonita que nunca.
  
     como é possível não viver sob a musicalidade que as cores transmitem e ignorar que se sente nas linhas retas e circulares que formam os ângulos da vida a influência do dia a dia?
  
     poderemos nós acordar em mi bemol ou fá sustenido e sentirmo-nos nesse dia mais direitos e eretos, clássicos portanto, por oposição aos dias em que nos levantamos sob a égide de tríades, acordes de dó maior e enrolados numa valsa desconjuntada de movimentos corporais descoordenados mas tão mais desinibidos?

      e tornar isto encaixável numa vida de burocracia? 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

agendado.

casa da música e aula magna. Porto e Lisboa. dezasseis e dezassete de Dezembro próximo.
 
um dó li tá.
 
 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

alfaiataria

     o Porto tem um de vários segredos que gosto amiúde de espreitar. fingindo que há um fato para criar à medida das minhas ancas flausinas, justo o suficiente que as disperse dos olhares, alongando-me utopicamente a altura que consta do meu documento de identidade, bato três vezes com os nós dos dedos da minha mão na porta da rua da casa, outrora jóia de família, granítica e forrada a azulejos verdes. três vezes que me sabem já de cor e reconhecem a pontada seca dos ossos que os chamam lá de cima. a bem dizer há a campainha, ouvida se marcada previamente a visita avec le createur.
       vai também assim o Porto, exportando ideias únicas que o sul nem se atreve a merecer ter.

clicar em baixo é entrar sem marcar. e vale bem a pena a visita.