terça-feira, 26 de março de 2013

quero lá saber, a menos que...

   não tenho o hábito de ver hoje o tempo com que acordarei amanhã. por não condicionar em nada o que farei amanhã. sempre fui assim. em casa dos meus pais, o boletim metereológico fazia parte da programação diariamente vista. grande seca. desligava o botão e sintonizava outra frequência. se chover não sais de casa à espera que passe? e se não passar? e se estiver um daqueles calores tórridos e apetecíveis, esticas a rede e instalas-te no terraço a ler os jornais do dia? ou vais para a praia em pleno janeiro? pois. pois para mim é igual ao litro. hoje é hoje e amanhã é outro dia e logo se verá. vejo é há muitos dias uma monotonia no céu que me começa a irritar. é o termo. porque a condicionar-me ao ponto de ter espreitado várias vezes o telemóvel e saber assim com que linhas se cosem os meus próximos cinco céus. e o quadro é o mesmo e o céu está lá, cinzento escuro, carregado de nuvens que prenhes se largam em águas que eu sei que cairão na minha cabeça, desorientando o meu cabelo, que encolhe, enrolado aos seus originais caracóis. e disto, posso dizer, não gosto nada. 

domingo, 17 de março de 2013

se desviar um pouco o olhar vejo que

há dezoito anos atingi a maioridade. há mais do que dezoito anos que a minha melhor amiga é a sara, apesar de estranho. há dezoito anos comprei a primeira revista de decoração e nunca mais parei. há dezoito anos ouvia pixies e nirvana com fartura e desde os dezasseis. continuei a ouvir nos dezoito anos seguintes. há dezoito anos não fumava e hoje digo que não fumo mas acho que sim. há dezoito anos queria ir estudar para lisboa, os meus pais convenceram-me a ir para o porto e acabei em coimbra. onde vivo há dezoito anos. há dezoito anos não namorava porque ía namorando. há dezoito anos já podia passar férias sozinha mas não podia chegar a casa depois das três e meia da manhã, embora chegasse. há dezoito anos o meu avô conversou imenso comigo, porque estive em casa dele quase um mês. há dezoito anos convenci-me que teria sete filhos. dois é quantos tenho. há dezoito anos, no dia em que fiz dezanove, o meu grupo de amigos ofereceu-me o sexus do henry miller, que li e lemos e hoje as miúdas andam a ler as sombras de grey e eu até fico arrepiada. há dezoito anos a minha auto - análise era tão estúpida que dezoito anos depois fico a pensar se serei a mesma de há dezoito anos. há dezoito anos o mundo não era melhor nem pior. era igual só que não havia internet e se eu quisesse escrever estas linhas fá-lo-ía em folhas soltas, que partilhava e guardava ou oferecia. há dezoito anos fui a única a chumbar no exame de código por nunca ter aberto o livro, certa de que me bastava o senso comum. há dezoito anos deixei de frequentar a minha praia de sempre e tenho pena. dezoito anos depois apetece-me voltar. há dezoito anos que as minhas recordações dos dezoito anos são as melhores mas não passava lá outra vez. 

domingo, 10 de março de 2013

volver

janeiro de dois mil e sete

dezembro de dois mil e dez


fevereiro de dois mil e treze
   vou e gosto de voltar. aconteceu-me apenas uma vez ir, estar e deixar o lugar sem olhar para trás, sem saudades de o largar, sem certeza alguma de voltar ou de me apetecer, ao menos, voltar. ficou lá, a milhares de kilómetros. adeus. 
   não coleciono carimbos diferentes no passaporte e, sem projecção exibicionista, lá me ocorre abri-lo em páginas diferentes e, então, a mesma figura geométrica, igual cor, quem sabe também a mesma assinatura de quem me abriu a cancela das boas vindas.
   barcelona não é marraquexe - porque nada na minha vida há-se ser igual a marraquexe - mas é paixão. experimentei-a a quatro, a dois, a duas. não lhe conheço se não o frio mas com sol. inverno puro. desta vez com chuva, sumida assim que me reconheceu nos passeios das veias da cidade.
    uma cidade, uma nação. barcelona não é espanha, apesar de ser dela. e eu gosto destes lugares que, como algumas pessoas, tatuam o nome nas memórias que nos ficam quando as largamos até ao momento em que as puxamos contra nós para lhes mostrar, com todo o fulgor, porque volvemos. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Março


 
   Março é o meu mês. é o meu preferido por ser dele que sou feita e por fazer ele a transição para o bom tempo, quando acordar cedo não implica cumprimentar a lua. tudo é mais bonito a partir de Março. até eu.